domingo, 3 de junho de 2012

Naim Gork

Naim Gork acordou com dificuldade. Sexta-feira, último dia de trabalho da semana e as forças já no fim. Mais um dia de engarrafamento, de tempo perdido, de irritação e de sono. Chega ao trabalho às 8 horas e só pensa em poder voltar para casa. Queria estar aposentado e aproveitar a vida, mas não tem idade e tempo de contribuição previdenciária para isso. Quando tiver, já vai estar quase morto e não vai poder aproveitar tanto. No trabalho, o mesmo de sempre, e às vezes nada, ou melhor, frequentemente nada de interessante. Atende a ligação de uma instituição de caridade pedindo dinheiro. Ouve a moça até o final, só por educação, e enfim diz que não vai ajudar. Sem o menor problema com isso. Volta-se para o computador e lê o jornal na internet. Chove. Pensa no almoço e no restaurante que vai (de preferência perto). No jornal nada de interessante. Ao final do expediente vai ao bar e toma uma cerveja. Pega o ônibus cheio e lento por causa do trânsito. Depois de uma hora chega em casa. Toma banho, come e pronto. Mais um dia está acabando. Não fiz nada, pensa. só desperdiçei meu tempo. Piromba! Que vida sem graça!
No dia seguinte, acorda às sete da manhã. "Isto não é hora para acordar num dia de folga". Tenta dormir, porém é inútil. Levanta e faz o café. Liga o rádio para logo em seguida desligar. Acende um charuto, olha pela janela o tempo nublado. Tem vontade de pular, mas falta-lhe algo. Não, na verdade, ainda acha que é melhor estar vivo. Vai para rua e no caminho encontra o porteiro. Começam a conversar. O porteiro está bem-humorado. Foi um encontro agradável. Já na rua, conversa com o jornaleiro. Ouve umas piadas e falam de política rapidamente. De volta ao caminho, chega ao mercado. Movimento fraco, ainda é cedo, diz a caixa, enquanto passa na registradora os produtos. De volta a rua até a chegada em casa. Olha pela janela. Tempo nublado. Sorri. Agora a vida parece bem mais interessante. Curioso como o encontro com pessoas pode mudar perspectivas. Pelo menos ele não encontrou nenhum espírito de porco, senão teria pulado. Talvez não. Às vezes o que precisamos é só uma pequena mudança para encontrar graça. Menos até, basta uma volta pela vizinhança e ela nos encontra. Porque a graça da vida está nas coisas simples que ela traz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário