sábado, 26 de março de 2011

Como ler o livro de Daniel


Autoria de Ivo Storniolo, editora Paulus.

Segundo o autor, o livro de Daniel é uma ficção e não um relato histórico. Sendo assim, Daniel não é o autor do livro, mas um pseudônimo. É um personagem. "Que não se entenda mal: a ficção é usada pelo autor para falar de modo cifrado de situações perigosas e de projetos ousados, que poderiam facilmente acarretar ameaças para ele próprio e para seus leitores." (p.9). O livro pertence a literatura apocalíptica e um dos recursos usados é o da antedatação - "o autor retrocede ao passado e escreve sobre a sucessão histórica, como se estivesse profetizando, até chegar ao presente." (p.9). O texto pretende dar esperança e incentivar a resistência contra Antíoco IV Epífanes (175 a 163 a.C.), o rei que profanou o templo, substituindo a adoração a Deus pela adoração a Zeus/Júpiter. O evento culmina com a revolta dos Macabeus, que restaura a adoração a Deus.

O livro é ótimo para quem gosta de entender o contexto histórico por trás dos textos bíblicos. O autor interpreta cada uma das visões com eventos históricos da época de Antíoco, mostrando que elas se referiam àquela época.

Enfatiza que o Reino de Deus é algo do presente, que combate as injustiças econômicas e políticas e alerta várias vezes contra a leitura apenas espiritual do texto. Destaca também que a expressão "Últimos Dias" (Dn 10,14) refere-se ao fim do imperialismo (presente histórico do autor) e não ao fim do mundo.

No final do livro o autor afirma:

"A fidelidade a Deus é fundamentalmente servir à vida" (p.102).

Leitura muito interessante. Vale conhecer!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Santidade, segundo João Ubaldo Ribeiro

"Para atingir a santidade, diversos métodos são recomendáveis, a depender do tipo de beatitude pretendida e do grau que se deseja obter, dos quais é complexa a descrição e trabalhoso o estudo".
Sangrador Santos Bezerra, personagem candidato à santidade entrou num programa de 5 fases, para torná-lo cada vez mais puro.

1ª fase - Introdução à mortificação
Penitência Aplicada
Teoria Geral da autoflagelação

2ª fase - Mortificação avançada
Jejum intensivo
Lamentação I

3ª fase - Mortificação profissional
Purga I
Lamentação II
Êxtase elementar

4ª fase - Controle de abrasamento
Técnicas antiblasfêmia
Anatemização geral
Expiação I
Purga II
Ares Pios

5ª fase - Introdução ao milagre
Expiação II
Êxtase avançado
Autoflagelação aplicada
Introdução ao exorcismo
Simbologia enigmática

E aí gostaram? Alguém se habilita? :O)

Fonte: João Ubaldo Ribeiro no livro "Vencecavalo e o outro povo". Editora Record. Coleção Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa.

Achei o livro no sebo em ótimo estado por R$5,00, mas de 1 a 5 dou nota 2.

sábado, 12 de março de 2011

Diminuindo o peso sobre os ombros


Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mt 11,28-30

O texto bíblico refere-se ao peso do ensino, mas especificamente o peso das regras de determinado ensino. Na época de Jesus havia muitas regras para ser considerado um “praticante da Palavra”. Essas regras eram criadas pelos intérpretes da Lei. A preocupação era dizer o que podia e o que não podia ser feito de modo que se cumprisse a Lei. Só que muitas vezes essas regras tornavam-se um peso insuportável. Era conhecida a expressão “jugo do rabino” (disponível em http://www.ibab.com.br/artigos.php?id=29, acessado em 02/03/2011) para ilustrar que alguém seguia o ensino de um determinado rabino, com seu conjunto de regras. Sendo assim, o jugo no texto de Mateus refere-se ao ensino de Jesus, que deveria substituir o ensino dos intérpretes da época. Tal ensino gerou constantes disputas entre Jesus, Mestres da Lei, fariseus e escribas. O texto em questão é um convite ao discipulado sob a liderança de Cristo. Além disso, é uma crítica ao legalismo que predominava no judaísmo. Ele nos faz refletir sobre as nossas práticas legalistas hoje.

1) O ensino (jugo) de Jesus produz descanso (sossego)
Não há uma regra “faça isso para receber aquilo” -> tensão
Há sim: “Seja feita a vontade do Pai” -> sossego
Erro: Se não há cura, não há fé! -> não produz paz.

Meu tio paralítico sofreu muito com peso de ser taxado como alguém sem fé suficiente para receber o milagre da cura, além disso o peso de algum suposto pecado oculto, também poderia bloquear a benção da cura que ele tanto queria. Esse tipo de ensino gera um fardo pesado e não produz o descanso que Cristo dá.

2) O ensino de Cristo é suave.
1João 5,3 “Seus mandamentos não são pesados”.

Segundo o pr. Israel B. Azevedo
"O legalista tende a imaginar que uma pessoa é aceita por Deus em função do seu comportamento, não por causa do seu amor;
O legalista tende a impor convicções pessoais sobre outras pessoas e a condena se falharem ou não desejarem viver segundo essas regras;
O legalista reverencia o passado, como se o passado fosse sempre melhor que o presente;
O legalista tem um alto censo crítico. Como tem de si um conceito mais elevado, ninguém presta.
O legalismo prega a obediência a Lei, não ao Senhor, a regras, não a Deus; a padrões externos, não a valores internos. As regras se sobrepõe às pessoas".

Para Cristo a pessoa é sempre mais importante do que a regra - cada caso é um caso. Ex: Apedrejamento da mulher adúltera;
Paul Tornier no seu livro "Culpa e Graça" escreve sobre o episódio da mulher adúltera: “Deus apaga a culpa consciente, mas torna consciente a culpa reprimida.” Jesus faz com que todos percebam que eram tão pecadores quanto a adúltera.
“O santo usa as Escrituras para revelar o amor gracioso de Deus pelos pecadores, o legalista usa a Bíblia para justificar a sessão de apedrejamento do que pecou.” Rev. Antonio C. Costa (disponível em http://www.genizahvirtual.com/2010/09/qual-e-diferenca-entre-ser-santo-e-ser.html, acesso em 02/03/2011).

3) O ensino de Cristo é um fardo leve.
Mt 23,4 “Eles [fariseus] atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens.”
“O legalismo: transforma a minha opinião no seu fardo. Só existe espaço para uma opinião no barco. E advinhe quem está errado!” Max Lucado em "Ele Ainda Remove Pedras" (p.143).
“O Legalismo coloca dentro de você o medo do homem. Faz com que tenha fome de aprovação. Você fica ansioso para saber o que os outros vão dizer ou pensar, e termina fazendo o que for necessário para agradá-los. A conformidade não é agradável, mas é segura” Idem. (p.144).

Conclusão
Rigor demais sufoca! A Graça nos liberta, mas nos dá responsabilidade (Graça também não é sinônimo de bagunça).
Principio Batista: cada pessoa é competente e responsável perante Deus nas próprias decisões e questões morais e religiosas.
A Graça não combina com Legalismo. Não devemos impor aos outros tamanho rigor, pois Cristo mesmo não fez isto. Devemos lembrar sempre que a Graça é o padrão de Cristo.
Crente não é “pode ou não pode”, crente é discípulo de Jesus, manso e humilde de coração.
A igreja é comunidade para acolher o pecador e não "apedrejá-lo".
Que o Espírito Santo nos ensine e aprimore.
Amém!