domingo, 13 de maio de 2012

Crônica da Noite

Acostumei a ouvir sua voz à noite. Nós em Estados diferentes, mas aproveitando a promoção de uma operadora de Celular que cobra apenas o primeiro minuto da chamada. E assim acabamos o dia juntos, passando horas ao telefone. As conversas banais, às vezes sérias, muitas vezes engraçadas. Falamos de saudade, enquanto olho pela janela a escuridão e algumas estrelas no céu. E quando falta assunto? Ficamos algum tempo em silêncio, que só é interrompido por aquela frase sublime com apenas três palavras. Repetimos a frase. Imagino os carinhos, a ternura, o afeto sendo levado pela operadora de celular até a outra ponta, até o outro Estado. Os dias demoram a passar e quanto mais demoram, mais demoramos ao telefone. Madrugadas de carinho por telefone. Assim, esperamos o dia em que poderemos nos encontrar face à face. Digo que gosto do seu jeito, de te ouvir rindo, do seu charme ao falar comigo. Troco várias vezes o celular de lado, às vezes a ligação fica péssima e preciso sair de casa e procurar o telhado, onde o sinal é melhor. Ali prossegue a conversa, vejo algumas nuvens e é inevitável a brincadeira de encontrar formas nas nuvens. Agora mesmo vi um perfil de pessoa se transformar em pássaro. Podia pegar carona numa nuvem... Você ri de mim, ou para mim, não sei. Só consigo ouvir. Uma lacraia atrapalha a conversa. Passa pelo meu pé, que por reflexo a joga para longe. A sensação desconfortável faz com que desça do telhado e procure abrigo num lugar sem lacraias. Fico torcendo para chover e haver raios. Mas está calor e sem possibilidade de chuva. Falamos do tempo, de saudade (de novo!). Sonhamos juntos o futuro, como será, como gostaríamos que fosse.
As noites não são mais as mesmas. Agora elas estão repletas de sentimentos misturados, de histórias de duas pessoas, que também estão fazendo sua história juntas. As madrugadas não são mais as mesmas. A vontade é de permanecer assim, no colo dela (imagino), ouvindo e contando. Trocando declarações de amor e depois adormecer, porque em algum momento o sono vence. E até nisso há conforto, quando ela diz: "Amor, vamos dormir?". Sorrio. Pedido mais doce e justo depois de tudo, de tanta paixão e saudade (por telefone). A frase vira nossa chave para encerrar a noite juntos e esperar por mais um dia. Ou melhor, mais uma noite. Vamos dormir então. "Eu te amo!"
Rio, 12 de janeiro, de 2011.



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