sábado, 18 de maio de 2013

Nasce um ciclista

Orfeu acorda com fixação por ter uma bicicleta. “Poderia ir para o trabalho assim. Seria legal”. Mas o trânsito nesta cidade é absurdamente perverso. Uma bicicleta, o ciclista, são alvos fáceis para o trânsito delinquente. Orfeu sabe disso, porém comprou a bicicleta e foi para o trabalho. Já na rua São Francisco Xavier, na Tijuca, teve que desviar para a calçada, por causa de um ônibus bicho-papão que o assustara. Na calçada fizeram cara feia, “aqui não é lugar para bicicleta!”, diziam. Agora entende a falta que faz uma ciclovia. Chegou suado, 50 minutos depois ao trabalho, no Centro da cidade. A volta foi mais difícil. Mais carros, motos, caminhões, passando muito perto. De ônibus acostumou-se a ver tudo isso do alto, como Gulliver via os pequeninos habitantes de Lilipute. Agora não. O medo o deixava atento a tudo. Não usava capacete, ou qualquer outro item de segurança. Indo pelo cantinho da rua quase atropela uma vovózinha que descia do ônibus. Evitou algumas ruas mais movimentadas, procurava caminhos menos tumultuados. As axilas eram refrescadas com o vento contrário e a poluição parecia mais perceptível, sua garganta estava irritada. Aprendeu que é difícil olhar para todos os lados numa bicicleta em movimento. Chegou em casa pensando em desistir, mas alguma satisfação por ter conseguido o tentava a repetir a aventura. Foi descansar e sonhou que guiava sua bicicleta voadora pelas vias áreas de uma cidade do futuro e lá era ainda mais tenso pilotar sua bike.
Continua...

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