segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lembranças dos que se foram, ou links para memórias.


Precisava tirar xerox colorida e fui até uma papelaria no Engenho Novo, perto do tradicional colégio Pedro II. Enquanto a atendente fazia a cópia, me distraia consultando os itens do mostruário: Cortador de unha, “acho que vou levar um”; dados, dados? É. Dados. Lembrei que jogava futebol de botão com dados bem pequenininhos. Borrachas, canetas, lapiseiras... Voltei para as canetas. Vários modelos. Uma chamou minha atenção. Caneta esferográfica Pilot BP-S feita com um plástico azul claro e ponta metálica. A viagem no tempo: Na 6ª série usava essa caneta. Eu e meu amigo Sérgio. Escrevíamos com letras pequenas, para horror das professoras, e com a pilot ponta fina. Décadas depois lembro disso porque o Sérgio faleceu há dois anos e, coincidentemente, a uns 10 metros da minha casa! Já fazia muito tempo que não o via. Estava amanhecendo quando ouvi os tiros. Vi o corpo um pouco mais tarde quando saia para trabalhar, mas o cobriram com um pano. Não vi o rosto do morto. Só fiquei sabendo que era o Sérgio quando no intervalo para o almoço, lá no trabalho, ouvi as notícias. Falava do Sérgio morto por causa de algum problema com drogas. “Mais um”, pensei. Outro conhecido morto ainda jovem. Depois percebi uma diferença marcante entre as pessoas criadas em lugares marcados pela violência das outras. Estas últimas falavam dos seus amigos de infância e de alguns que ainda mantinham contato. No meu caso, sobraram poucos. Morreram muito cedo. Famílias desestruturadas, escolhas erradas e um ambiente carregado de más influências. Lamentável. Muito triste! Pelo menos hoje, muitos perceberam a necessidade de dar opções para os moradores de áreas carentes. Criaram projetos com esportes, informática, etc. O Estado, as ONGs, as igrejas, todos passaram a motivar os moradores principalmente os mais novos, mas ainda precisa melhorar muito.
Os links para as lembranças dos que se foram podem ser curiosos. Quando vejo uma sardinha frita, ou sinto o cheiro quando alguém está fritando, lembro da D. Leda. Era nossa vizinha e a cozinha da sua casa, no 2º andar, ficava numa posição favorável ao vento. Além disso, o fogão ficava perto da janela, de tal modo que ela podia cozinhar e observar o mundo lá fora. O cheiro das sardinhas fritas se espalhava e a D. Leda, quem diria, ficou conhecida pelo cheiro da sua sardinha! Faleceu de causa natural, assim como o Walter, meu tio. Quando ouço falar de Absalão lembro-me dele. Ele gostava de contar que a origem dos salões de beleza estava ligada diretamente a este personagem da Bíblia, filho de Davi e conhecido por sua beleza. Absalão era perfeito da cabeça aos pés e sua cabeleira pesava mais de 2 quilos, quando ele a cortava uma vez por ano. (2 Samuel 14,25-26). Daí segue que: Absalão (belo, cabelão, etc.), “abre salão”, que resulta em Salão de beleza. Viu? Óbvio? Walter ria contando isso. E por aí vai. “Chacrinha”, outro vizinho falecido, adorava frango assado, aquele de padaria. Símbolos que trazem da memória pessoas que conhecemos.

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