sábado, 17 de julho de 2010

Estereótipos e Máscaras

Estereótipo. Índio é preguiçoso, baiano também. Carioca é malandro, paulista é trabalhador. E o evangélico? Evangélico é "não pode". É assim que os evangélicos são vistos. Alguns se espantaram quando o jogador Kaká xingou por não ter feito aquele gol contra a Holanda. Alguns brincavam: "Ué, ele é evangélico. Não pode xingar!". A expulsão do mesmo jogador na partida contra Costa do Marfim também gerou polêmica. Kaká, o bom garoto, está virando bad boy? Mas ele é evangélico! Não pode! Evangélico é tido como aquele que não pode fazer o que os outros fazem. Vira escândalo. Alguns ainda dizem que evangélico não pode ir à praia - é verdade para alguma denominação. No passado era o cinema, ou até ver (ouvir) novela. Era tabu.

Participei de um bolão no trabalho com palpites para os jogos da Copa de 2010. Encaro como brincadeira, mas é fato que o ganhador do bolão recebeu uma quantia considerável. Nesse foram R$976,50 (com 94 participantes). O mais legal é que venci! Ganhei o prêmio e prontamente começaram as brincadeiras. Evangélico pode jogar? Pode não! Bom, se entre os não-evangélicos é assim, também o é entre evangélicos. Na verdade, nós evangélicos construímos essa imagem. Somos vistos simplesmente como aqueles que seguem uma lista de proibições. Evangélico não joga, não bebe, não fuma, não frequenta boates, barzinhos, etc. Ser evangélico é isso. É "não pode".

Sou um evangélico típico. Apesar de ter participado do bolão, o jogo por dinheiro não faz parte da minha rotina, bem como as demais proibições (ok, talvez já não seja tão típico, afinal eu joguei!). Porém, fico muito chateado com essa imagem. Parece que evangélico está além da humanidade, o que é uma bobagem. Evangélico é gente e "gente faz o que gente faz". Erra e acerta. Somos vistos, em muito por nossa culpa, apenas como aqueles que são proibidos de fazer. Não erramos e não pecamos como os outros mortais. Não somos do mundo, conforme o evangeliquês corrente. Uma terrível redução do que é um evangélico.

Máscaras. O convívio nas igrejas, por outro lado, nos mostra como somos do mundo. Invejas, ciúmes, fofocas, disputas por cargos (leia-se poder), por reconhecimento, até intrigas! Contudo, isso acontece sem que os autores assumam a falha. Pior é quando ainda insinuam que seus opositores é que não estão de acordo com a vontade de Deus. Discurso usado também pelos adversários. Mas a máscara continua lá. Mantém-se firme o rótulo do evangélico padrão. Há uma igreja diferente dessa? Uma onde só haja virtudes? Acho que não, pelo simples fato de ainda "estarmos a caminho". Ainda estamos aprendendo.

Deveríamos enfatizar que ser evangélico não se resume a uma lista de proibições. Não existe super crente! É difícil porque nessa frente temos evangélicos loucos para ver algum irmão fazer o que é considerado tabu e dizer: "Você não é evangélico? É escândalo!" e os não-crentes que usam esta mesma imagem para se divertir: "Evangélico não pode!". E então quando criamos um padrão que poucos, talvez ninguém, consiga seguir integralmente, baseado em proibições, estimulamos uma vida dupla dos crentes, ou criamos um molde tão apertado que corre o risco de tornar-se um fardo. Mas Cristo não nos libertou? Deveríamos admitir mais vezes que estamos todos aprendendo e afrouxar um pouco "as mãos que estão nos pescoços uns dos outros". Isto não significa uma perversão total, mas admitir, junto com todas as consequências que isso traz, que não somos perfeitos. Eu não sou e por isso sigo Jesus.

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