Lutero

Um trecho de um texto antigo escrito após a leitura do livro "Da Liberdade Cristã" de Lutero. Achei fazendo uma arrumação em casa. Ei-lo:

"Que aproveita a alma se o corpo é livre, sadio, vigoroso (...)? Ou que dano pode causar a alma se o corpo anda sujeito, enfermo, fraco, padecendo fome, (...)? Nada disso atinge a alma, tanto para libertá-la ou escravizá-la, torná-la justa ou perversa." LUTERO, M. Da Liberdade Cristã.

Podemos identificar  a influência do pensamento platônico, porque ele admite o dualismo entre corpo e alma. Nessa oposição corpo/alma há primazia da alma em detrimento do corpo. O corpo deve ser subjugado, mortificado, enquanto a alma deve ser "alimentada" com a fé. Nesse sentido que as obras são entendidas por Lutero, como obras para disciplinar o corpo, pelo menos em primeiro momento. Aí estão incluídos jejum, oração, vigília, etc. O reformador também é categórico ao afirmar que tais atividades não deixam o cristão mais consagrado - papel que é efetuado apenas pela fé. Observa-se aqui uma diferença para os dias atuais, quando alguns creem adquirir consagração (leia-se mais poder espiritual), quando praticam, com frequência, jejuns, vigílias, etc. Em um segundo momento, as obras são entendidas também como serviços desinteressados ao próximo.

(...)

Outro ponto que merece destaque é a ênfase dada no sentido de que pela fé o cristão já possui tudo e por isso, age liberalmente para com seu semelhante, inclusive nas orações. O cristão já recebeu sua recompensa, a salvação. Tudo o mais é visto como lucro. Até o padecimento! Que ajuda a aperfeiçoar a alma. Interessante notar que é bem diferente do padrão cristão vivido por alguns, em que as necessidades do fiel estão em primeiro lugar; as orações são listas de pedidos materiais em benefício próprio. Até mesmo a doença é vista como inadmíssivel para alguns cristãos, que chegam a afirmar que a persistência da doença é fruto do pecado ou da falta de fé! Pelo jeito esta obra de Lutero ainda pode ser útil nos dias de hoje.